O mundo pelos olhos de Valentim Quaresma - Entrevista



E para os amantes de design e moda, teremos uma dose do tema para o Sábado! Uma entrevista feita com o designer de acessórios português muito conceituado que teve suas peças participando do clipe da Lady Gaga. A oportunidade de entrevista-lo veio e eu tive o imenso prazer de faze-la. Para quem não sabe de quem estou falando, vai uma leve introdução sobre ele:

Valentim Quaresma, um designer de acessórios português procurado pela sua criatividade e originalidade de suas peças. Valentim começou desde cedo seu interesse em moda e criação, assim abrindo espaço para se permitir descobrir o mundo que o faria uma figura tão procurada e única.

Seu trajeto foi cada vez mais se firmando e ele conseguiu ter sua chance de trabalhar com a famosa Ana Salazar, onde ficou durante 22 anos.
Em 2008, Valentim ganhou a “Coleção Acessórios do Ano”, que foi o prêmio da competição internacional ITS # 7 em Trieste Itália.
Desde então, Valentim teve uma outra pespectiva diferente. Pois era um prêmio de valor de reconhecimento profissional e internacional e com isso deu lhe impulso para iniciar sua própria marca.
Também foi um dos 10 artistas portugueses escolhidos para representar Portugal no tribunal de Contas

Com sua coleção FW11 “Alquimia”, que foi exposta no MUDE, ele começou a tomar parte na ModaLisboa no calendário anual oficial. Sendo um designer referência para o ModaLisboa (Fashion Week Lisboa).

Para quem não viu o post que fiz sobre a coleção dele que fui na Fashion Week de 2015, deixo AQUI o link.


Entrevista

Quais foram seus interesses/inspirações para começar? O que lhe motivou?
Primeiro foi a Ana Salazar. Comecei aos 16 anos, foi em tempo da moda mais autor em Lisboa. Comecei a trabalhar em um loja que fazia acessórios de moda, e depois fui trabalhar com a Ana Salazar, aos 19 anos.
E nunca mais parei.

Sobre a coleção apresentada no ModaLisboa 2015, o tema era forte. Poderia falar um pouco sobre
ela?
A coleção chamava “Cinematic”, tentei fazer que o processo criativo fosse mais ligado ao cinema. Não está tão ligado a própria peça em si, mas pensando como um todo. Como uma silhueta inteira, o que cada manequim representa um estado de espirito. Comecei a trabalhar com a simbologia das peças, uma coisas que pudesse simbolizar euforia ou agressividade. Que pudesse ser transmitido nas peças.
Tinham algumas peças que lembravam coroas/realeza...
Foi a tentativa de alcançar cada estado de espirito.

Qual material utilizar para suas criações e qual o mais fácil para trabalhar?
Eu uso sempre metal, alumínio e latão. O mais fácil que trabalhar é o latão, bem mais que o alumínio e o cobre.

Você trabalha com materiais como ouro e prata?
Como vendo peças para lojas, trabalho com material permitido por lei nesse tipo de comércio. Produtos feitos em ouro e prata são obrigados por lei aqui em Portugal serem vendidos apenas em joalherias. Se estivem em outro tipo de comércio, podem serem confiscados pelas finanças. Mas há uma lei que pode haver produtos com esse tipo de material, mas têm que está em uma ala separada na loja.

Você já produziu ou produz peças com esses materiais ouro e prata?
Sim, mas faço por encomenda.

Qual é sua rotina de trabalho no atelie e de criação?
Eu trabalho durante o dia. Não sou daquelas pessoas que trabalham durante a noite. Gosto de trabalhar durante o dia, o gosto de criar principalmente na parte da manhã. Pois estou com a cabeça mais limpa.
Gosto de começar o dia a criar e na parte da tarde aproveito para produzir.
Todos os dias estou no atelie, entramos as 10 horas da manhã e saímos as 19 horas. As vezes sou o
primeiro a chegar e espero eles estagiários.
Trabalho sempre 10 horas por dia. Gosto daquilo que faço. Agora não trabalho mais a noite, mas durante muito tempo trabalhei. Então criei uma rotina pois percebi que criar de dia era melhor, pois chega a noite já estou com a mente cansada. Lógico que tem noite, que temos que trabalhar, como; depois dos desfiles, arrumando coisas e tal.

Vi que você também fez um trabalho para o clipe da Lady Gaga. Como foi trabalhar com essas
peças?
Eu não fiz nada de especial para ela. Eles escolheram peças que eu já tinha.
Isso foi em Los Angeles. Eles mandaram um email se eu poderia ceder as peças, e eu mandei.

Foram peças da mesma coleção?
Olha, eles quiseram tudo aquilo que eu tinha. E eu mandei tudo. Foram umas 7 ou 8 caixas de peças.



O que você indicaria para as pessoas que são novas nesse ramo, e querem começar mas ainda não
têm contatos? Qual é sua sugestão?
O importante é perceber o que se quer fazer. Você tem que estar consciente de todas as etapas que se tem que fazer. Se quer trabalhar para alguém ou para pesquisas, não importa, tem que se focar e não se dispersa. Tem que ter objetivos, se não você se perde, pois é muito fácil se dispersar. E tem muita gente pois faço estágios aqui que estão já licenciados, com mestrado, mas que não têm foco. Não sabem bem, ficam fascinados por moda glamour, mas não sabem as etapas que se têm que fazer para chegarem lá.
Dando um exemplo, eu tinha aqui um estagiário que sonhava em fazer um desfile de moda. Mas ele tinha primeiro que perceber para que serve um desfile de moda. Serve para você dar previsão ao teu trabalho, é para vender teu trabalho. Mas antes do desfile tem todo um processo. Você tem que fazer sua marca, entender os termos de vendas… pois o desfile é para vender todo o seu produto e trabalho.
Por isso a pessoa tem que se focar para começar hoje em dia. Quando eu comecei, ninguém tinha o
conhecimento dessas noções de agora. Eu tive um formação de joalheria, voltado as artes. Ninguém
percebia de negócios, nem qual era nossa posição no mercado, tivemos que aprender um bocado com os erros. Hoje não, pois vossa formação é completamente diferente do que eu tive. Os cursos de agora têm muito mais cadeiras e disciplinas, vocês estão mais preparados.
Com isso vocês podem se focar melhor, para não perder tempo, pois aprender com os erros durante 2 ou 3 anos é muita perda de tempo.

Vocês acha que aqui em Portugal tem boa abertura para designer novos?
Há boas energias para se trabalhar aqui. Mas você tem que estar com a cabeça lá fora. Porque o mercado aqui em Portugal é muito pequeno. Tem que se estar com a cabeça lá fora, pois só pensar em marketing em Portugal é muito pequeno.
É preciso ter contatos para fora. Eu acho muito difícil se sobreviver só em Portugal. Hoje em dia é muito fácil ter contatos em Paris, Londres, onde quer que seja.
Todos os criadores têm lojas online. Não é fácil ter loja online, mas é um valia para a marca. Pois está
aberto para o mundo.

Qual é a parte do seu trabalho que você mais gosta?
As vezes estou no processo criativo, estou a criar, estou a fazer as esculturas, as peças para desfiles, o
que gosto imenso. Talvez essa seja a parte que me dar mais prazer pois estou em criação.
Mas quando estou muito tempo a criar, para ser sincero, isso me farta, me esgota e só me apetece a
produzir.

O que você mais gosta de criar?
As minhas esculturas, pois estou mais livre na parte criativa.

E a manutenção das peças?
Passo um verniz especial, para não oxidar.

Um agradecimento especial para a Professora Thereza Lobo do IADE, que tornou essa entrevista possível.

Entrevista feita por: Raquel Esagui
Entrevistado: Valentim Quaresma
Coordenação e organização: Thereza Lobo



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